Nesse artigo abordarei um pouco de como é o diagnóstico em psicologia e psicanálise, porém, é importante ressaltar que não há uma única maneira de realizar tal raciocínio. Este texto é baseado em minha experiência profissional.
O objetivo é compartilhar informações pouco faladas sobre o assunto e levar informação para quem não é da área e tem curiosidade.
Como é o diagnóstico em psicologia?
O diagnóstico em psicologia é o processo de avaliar e identificar a presença de um transtorno ou condição psicológica em uma pessoa. Isso geralmente é feito por um psicólogo, que utiliza técnicas de entrevistas, testes psicológicos e observação do comportamento para chegar a um diagnóstico preciso.
O objetivo do diagnóstico em psicologia é entender a natureza e a gravidade dos sintomas e problemas psicológicos de um indivíduo, permitindo assim o desenvolvimento de um plano de tratamento adequado. O diagnóstico também pode ajudar a classificar e categorizar diferentes transtornos psicológicos, facilitando a comunicação e a troca de informações entre profissionais de saúde mental.
É importante ressaltar que o diagnóstico em psicologia não se limita apenas a identificar transtornos mentais, também pode abranger aspectos como o funcionamento saudável e adaptativo de uma pessoa. Além disso, o diagnóstico sempre deve ser feito levando em consideração as características individuais de cada pessoa, usar critérios diagnósticos estabelecidos, como os que estão presentes no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).
O psicólogo pode dar diagnóstico?
Sim, o psicólogo tem capacidade e técnica para elaborar um diagnóstico psicológico, principalmente quando o profissional trabalha com laudos psicológicos.
Como é o diagnóstico em psicanálise?
O diagnóstico em psicanálise é um processo complexo e envolve a compreensão dos sintomas e problemas emocionais de um indivíduo a partir de uma perspectiva psicanalítica. Ao contrário do diagnóstico na psiquiatria, que se baseia principalmente na classificação dos sintomas conforme os critérios de um manual diagnóstico DSM, o diagnóstico psicanalítico busca compreender a dinâmica inconsciente por trás dos sintomas.
É importante ressaltar que o diagnóstico em psicologia ou psicanálise não se limita a categorizar o paciente, também busca compreender sua singularidade e ajudá-lo a desenvolver uma compreensão mais profunda de si mesmo.
Quando discutimos o que é normal e patológico, colocamos em pauta áreas do conhecimento que fincam padrões de comportamento ou funcionamento da personalidade ajustada, não vejo como algo ruim, acredito que ajudará o psicólogo a se organizar.
Então, algumas pessoas chegam ao consultório com um diagnóstico e acabam vivendo somente em prol disso, por exemplo:
“O psiquiatra disse que eu tenho depressão.”
“Uma vez fui ao clínico e lembro que tinha falado algo sobre eu ser bipolar.”
“O neuro me receitou umas pílulas porque tenho TOC e ansiedade.”
Há pessoas que chegam no consultório e pedem um diagnóstico:
“Depois que te contei tudo isso, acha que estou deprimido ou tenho algum problema mental por pensar assim?”
Não há nada de errado com a pessoa que vem com o diagnóstico dado pelo médico ou com a que chega no consultório querendo um.
Em psicoterapia/análise vamos tentar trabalhar que o paciente se questione, por exemplo: já que recebeu esse diagnóstico o que pensa e sente sobre isso. Ou, o que é possível pensar diante desse diagnóstico. Entre outras questões que podem ser investigadas e instigar o paciente a pensar.
O diagnostico no estilo DSM é composto por uma série de fatores. Quando alguém busca um psicanalista e diz: “sou depressivo”, pedimos que fale mais sobre isso. Sim, a pessoa pode ter sido diagnosticada com depressão, mas é importante escutar como vivência essa depressão.
Não devemos retirar a autenticidade da fala do paciente que debate esta ordem, resumindo-o em uma palavra (depressão), assim, colocamos um único Saber (o saber médico). O paciente pode ficar engessado nessa palavra e não explorar o grande entendimento sobre seu mal-estar e sofrimento psíquico.
Então, a psicologia e a psicanálise não trabalha com diagnóstico?
Depende, se você estiver pensando no diagnóstico similar ao do médico: “você tem isso, tem aquilo”; “você é isso, você é aquilo”, realmente não trabalha.
Nos meus atendimentos clínicos, trabalho com hipótese diagnóstica que serve como uma base (somente para mim) para a formulação de um plano terapêutico individualizado que visa promover a exploração e o autoconhecimento do paciente, bem como trabalhar em direção ao alívio dos sintomas e à melhoria do bem-estar emocional.
Como é a elaboração dessa hipótese diagnóstica?
É realizado através de uma escuta cuidadosa do paciente, buscando entender seu inconsciente, seus conflitos internos, suas memórias e experiências traumáticas passadas e suas relações interpessoais atuais. O objetivo é explorar a história do indivíduo, seus desejos, fantasias e defesas inconscientes, a fim de compreender as origens de seus sintomas e problemas emocionais.
Ao realizar o diagnóstico psicanalítico, o psicanalista considera que os sintomas são expressões simbólicas de conflitos internos não resolvidos. Eles podem estar relacionados a experiências traumáticas passadas, desejos inconscientes não realizados, problemas nas relações interpessoais ou dificuldades em lidar com aspectos da realidade.
O diagnóstico psicanalítico não se concentra apenas nos sintomas manifestos, mas também nos processos inconscientes que estão por trás desses sintomas. O objetivo é entender como esses processos psíquicos estão afetando o funcionamento global do indivíduo e buscar identificar as questões mais profundas que precisam ser abordadas para promover alívio e o crescimento pessoal.
Vou te contar uma coisa: a melhor parte de uma psicoterapia/análise é poder dizer sobre si, ao invés de ser dito por um diagnóstico ou pelo psicólogo.
Psicóloga Renata Gonçalves – CRP 06/122453
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